
Li um texto da Veja (que em pouco lembra a Veja dos anos 60, 70 e 80), que você também pode ler no link abaixo:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/o-que-pensam-os-professores-brasileiros
Claro que o texto provocou-me, então escrevi uma mensagem eletrônica para a revista, que vocês podem ler abaixo. Para essa postagem, especialmente, gostaria que vocês enviassem comentários.
O texto “O
que pensam os professores brasileiros” foi escrito por alguém que não conhece a
realidade das escolas públicas brasileiras, ou é cretino, dissimulado e mal
intencionado.
Sou professor e
CONCORDO com boa parte do texto, então qual a razão da veemência no 1º
parágrafo?
Começo
questionando uma comparação pouco feliz. Sr Ioschpe, poucos médicos produzem
remédios. Isso é função, em geral, dos farmacêuticos, não de economistas ou
arquitetos.
Imagino que o
texto foi escrito levando-se em consideração o que o senhor sabe a respeito do
tema, baseado no senso comum, mas um senso comum que é fruto do “achismo”, não
é nem mesmo baseado em simples observações empíricas (se fosse o segundo caso
deveríamos encontrar outro adjetivo para o texto). Então está desculpado (quem
tem culpa neste caso é a Veja, por deixar que um tema tão importante seja tratado
de forma tão equivocada).
O senhor faz
afirmações com as quais concordo, repito mais uma vez. No entanto a causas que
levam à situação que nos encontramos não são abordadas, o que é apresentado
como resposta é apenas sintoma (questiono-me se as exposições foram feitas por
falta de conhecimento ou algum interesse não revelado).
O ponto mais
relevante é a meu ver, aquilo que muitos chamam de “sistema”. A Veja, como
crítica feroz dos governos do PT deveria se aprofundar mais nessa questão (acho
que não fariam isso pois esse processo existe antes dos governos do PT, que
infelizmente também não se preocupa realmente com a educação).
Peço desculpas por
me alongar, mas não é possível compreender tudo de forma resumida.
Hoje o resultado
final do processo de ensino / aprendizagem não depende dos professores pois há o
CICLO (em que os alunos avançam independentemente dos conhecimentos adquiridos)
e a aprovação por CONSELHO DE CLASSE, que servem para maquiar e manipular
alguns dados relativos à aprovação (o que a principio serve como propaganda de
Estado). Esses elementos que deveriam ser usados parcimoniosamente, são o
caminho mais fácil para os alunos, que com o passar do tempo deixaram de se
preocupar com o estudo. Não há mais dedicação, salvo raras exceções. Mas ao
contrário do que o senhor afirmou, não culpo os alunos e suas famílias por
isso. Por que razão estudar, se é possível passar de ano SEM ESTUDAR?
Sempre, em
qualquer situação, haverá bons e maus estudantes. O “problema” está nos
medianos, que por uma questão inerente à humanidade buscarão o caminho mais
confortável. E aqui concordo mais uma vez com o senhor, os professores, em
geral também se deixam levar por este caminho. Por que exigir o que se deve dos
alunos, trabalhar dobrado, ter fama de mau (e muitas vezes sofrer represálias),
se no fim do ano o “conselho de classe” dirá que todo o esforço foi inútil. E
não pense o senhor que o conselho de classe está ligado apenas ao ambiente da
escola. (Esse tema mereceria um maior aprofundamento e algumas considerações,
mas sigamos em frente).
Essa questão traz
um problema ainda maior. Os alunos que passam sem aprender, seguem com
defasagem e, pior, provocam a necessidade de retomada de conteúdos básicos, o
que acaba atrasando o desenvolvimento das matérias e, consequentemente
prejudicando todos os alunos (mesmo os bons).
Em outra passagem,
o senhor afirma que “apenas” 10% dos professores foram agredidos
no último ano. Se apenas 10% dos economistas fossem agredidos anualmente,
quanto tempo o senhor, estatisticamente falando, demoraria a ser agredido? E
depois da agressão, mesmo que se passassem 5 ou 10 anos, o senhor teria a mesma
tranquilidade de antes? Eu honestamente achava que esse índice fosse menor. Assustou-me
que o senhor comemorasse os “apenas” 10% de professores agredidos anualmente!
Quanto à intenção e satisfação e mesmo à formação, concordo
novamente com o senhor. Mas isso está relacionado diretamente à origem dos
professores, suas expectativas e rendas anteriores ao ingresso no magistério. Por
que estes dados não foram tratados ou mencionados?
Uma coisa bastante óbvia é que o salário é essencial para o
aumento da qualidade da educação. Não em função dos professores que já recebem
salário, mas da necessidade de aumentar a concorrência, o que levaria à seleção
de melhores profissionais. Repito: um bom salário interfere muito
pouco na atividade de qualquer profissional, mas provoca um aumento na disputa
pelas vagas existentes e, assim, a possibilidade de que melhores profissionais
sejam contratados. Será que é tão difícil pensar nisso sozinho? O
senhor, caso precisasse contrataria um pedreiro que cobra R$ 10,00 por dia ou
outro que cobra R$ 120,00? (Gostaria de ler uma resposta para essa questão – se
for possível, mande-me por e-mail, pois não compro e não leio Veja).
Com relação às faltas, muitas delas são em razão de problemas
médicos (incluído stress, depressão, síndrome de burnout, entre outros), mas um
dado importante a ser levado em conta é que há muitas aulas não dadas pela
completa inexistência de professores estejam interessados em ministrar aulas em
colégios de periferia (não é difícil encontrar colégios em que não há professores
de algumas disciplinas por 3 ou 4 meses – e aqui podemos entrar novamente nas
questão do conselho de classe, como
reprovar um aluno que não aprendeu nada porque não tinha professor? Mas qual
será o desempenho dele nos anos seguintes?). Pergunto, por que essas questões
não foram levantadas?
Por fim, o senhor afirmou que a maior parte dos professores trabalha
“apenas” 30 ou 40 horas (por outro lado posso dizer que 77% trabalham 40 ou
mais horas – será que a forma como os dados foram tratados foi intencional?),
mas esquece-se de que além do trabalho na escola há ainda a necessidade de
preparação de aula e, principalmente, correção de atividades e avaliações, que também
devemos considerar com parte do “sistema”, já que há um aumento progressivo em
relação a isso, com um mínimo de avaliações bimestrais, recuperações paralelas
e, em alguns casos, “recuperação da recuperação”. Em algumas ocasiões há mais
aulas destinadas a avaliações do que ao desenvolvimento dos conteúdos.
Saudações cordiais.
Prof. Yuri Iwankiw.

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