7 de fev. de 2013

Pré-história - Chris Gosden

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Versão inglesa

(3ª versão - 14/02)


Às vezes temos uma primeira impressão diferente da que formamos ao longo do tempo. Isso acontece com pessoas, situações e livros. E foi o que aconteceu comigo em relação a este livro que, a princípio, deveria tratar de "Pré-história" (termo que merece um post à parte).
Fiquei muito descontente em função de que nele, encontramos muito pouco a respeito do período anterior à civilização em si - mas isso é justificado se lermos o título em inglês (Pré-história: Uma introdução MUITO breve) (em português foi editado pela L&PM, mas é apenas "Pré-história"). O autor aborda historiografia, antropologia, psicologia, lingüística, geografia, arte, entre outras disciplinas, num volume muito pequeno...
O curioso é que o conteúdo trata mais da visão do autor sobre como funcionam as relações e o desenvolvimento humano. Em geral coisas que eu já pensava, e é aí que está o encanto que tive por ele. Pensava, mas não verbalizava.

Esta postagem vai receber ajustes a partir deste ponto, quando estiver concluído, apagarei esta frase:
(por hora vai funcionar como um bloco de apontamentos) se preferirem, registrando comentários, posso fazer postagens separadas...


Geologia / história: Em função das eras glaciais, grande parte da água do mar estava congelada, o que facilitou o deslocamento dos hominídeos e humanos entre ilhas e continentes, não só em função de "pontes", mas também em razão do nível dos oceanos estar, necessariamente, mais baixos.

Psicologia / sociologia / biologia: Somos "diferentes" em relação a outros animais muito em função da relação entre os bens materiais e nosso papel social. A posse de certo objeto ou conhecimento define a posição do indivíduo (e suas relações) nas sociedades humanas, o que não ocorre com outros animais sociais.
A disponibilidade de certos bens e a forma como eles foram usados ao longo do tempo definem a cultura e não possíveis fatores genéticos. "Não há genes exclusivamente humanos em quantidade suficiente para que se possa encontrar aí uma explicação para a complexidade cultural" (pag. 36).

Sociologia / política / economia: Num trecho, ao explicar como os dados são tratados em investigações arqueológicas, o autor faz referência ao mundo moderno (quando alguns arqueólogos e estudantes estudaram o lixo de parte dos habitantes de Tucson (EUA). O estudo demonstrou que os mais pobres tendem a gastar mais em supermercados do que os mais abastados, pela simples razão de que não podem comprar embalagens maiores e proporcionalmente mais baratas, "(...) o dinheiro era curto, eles compravam o que podiam e quando podiam. (...)" (pag. 43). Mas é pior! Durante um período de racionamento de carne em 1973, houve um considerável aumento no desperdício de carne por parte das famílias mais ricas, pois como podia faltar mercadoria, essas famílias compravam muito mais do que podiam consumir e acabavam tendo que jogar fora o excesso.

Psicologia / sociologia / economia: há indícios que em vários grupos "pré-históricos", os indivíduos trocavam presentes para manter relações sociais com outros indivíduos e, provavelmente para estabelecer relações de poder. Não retribuir um presente poderia significar a pouca importância dada ao convívio social e, possivelmente a exclusão daquele que não retribuiu.

História / biologia: o autor revela que não há semelhanças genéticas entre os homens modernos e os Homo Neanderthalensis, ao mesmo tempo em que há pouquíssima variabilidade genética entre todas as populações humanas, o que aponta para uma ascendência comum para todos os homens.

Antropologia / sociologia: muitas pessoas consideram os aborígenes australianos, atrasados. Talvez os humanos mais próximos a uma vida em que os humanos/hominídeos não poderiam ser diferenciados  de outros animais, mas "(...) Os povos aborígenes australianos foram descritos pelo antropólogo Lévi-Strauss como os virtuosos da mente humana, devido à enorme quantidade de conhecimento genealógico e cosmológico que construíram e preservaram, (...)" (pag. 65).

História / mitologia / religião / sociologia: os mitos (e as religiões) surgiram para organizar a sociedade. "(...) A grande diferença entre ciência e magia é que a primeira presta pouca atenção à condição espiritual ou moral dos participantes humanos, o que para os magos é vital (...)". Na magia ou religião também há a utilização de bens materiais para reafirmar posições de poder e por vezes a forma ou a cor representam o "espírito" do objeto.

Psicologia: "Muito do que somos (...) é (...) o modo como agimos" (pag. 100).

Biologia / psicologia / arte. Em vários pontos e de diferentes formas, o autor aborda uma questão fundamental para o desenvolvimento da humanidade, a inteligência. Ele diz que não há apenas uma inteligência intelectual e que inteligências diferentes, como a espacial, foram tão importantes para a evolução humana quanto aquela inteligência "que vai da retenção de informações visando à resolução de problemas a um pensamento inovador e criativo e ações não realizadas previamente" (pag. 102).
De certa forma, especialmente quando relacionamos a inteligência à criação de algo novo, o trecho a seguir tem relação com o parágrafo escrito acima "Um estado de inspiração é uma experiência emocional e intelectual poderosa que deriva de um novo sentimento pelo mundo e novas possibilidades de traduzir o mundo em palavras e objetos." (pag. 106).
O autor, repetidamente, aponta questões estéticas e a forma como diferentes povos tem diferentes interpretações a respeito de cores, formas ou sons e como construímos cultura em torno destas questões. Ele afirma também que inteligência envolve todos os sentidos e não apenas o  pensamento.
 

História / religião: "Todas as nossas identidades e histórias são em parte baseadas em mitos, apoiando-se em princípios não analisados e pressupostos tomados como verdades absolutas. Quanto mais recuamos no tempo, mais nossos mitos florescem, não controlados pelo conhecimento direto. (...) Em essência, o passado nos interessa em função do presente; não significa nada em si mesmo. Para conferir ao passado máximo poder no presente devemos celebrar e ressaltar suas propriedades mitológicas, (...)." (pag. 132 e 133).




Vocabulário novo:
Leitmotiv: motivo ou motivação para justificar algo. Seria o Cristo do "pegar pra Cristo", mas num sentido não negativo (pode ser uma frase, um pensamento, uma explicação, etc. que provoquem ações ou expectativas).
Ubiqüidade: estar presente em vários lugares ao mesmo tempo (diferente de onipresença que é estar em TODOS os lugares)
Wetware: neologismo que identifica um terceiro elemento na relação Hardware - Software, o usuário. Numa outra comparação, diria que o Hardware é o carro, o Software é o caminho e o Wetware é o motorista (talvez o passageiro também). 


http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/292276/PREHISTORIA_1357308281P.jpg
Versão brasileira

2 comentários:

  1. Olá

    Gostei muito dos assuntos/temas abordados que você enfatizou e listou do livro em questão, pesquisei o preço aqui e é bem acessível, vou adquirir o meu exemplar, porém como sempre diz um grande amigo: “Uma pena que ao comprar os livros eu também não compre o tempo para lê-los”. huahua

    No entanto, eu quero ressaltar o fato de você ter citado a disparidade entre o título do livro em inglês e português, você deixou claro que a tradução incompleta gerou um desapontamento, principalmente no que diz respeito ao conteúdo, praticamente uma falsa propaganda (o título em português). Entretanto, indo mais além, você acredita que possam ocorrer mudanças significativas, no que tange aos conteúdos dos livros, durante uma tradução?

    Um amigo filósofo falou inúmeras vezes para eu evitar as obras da editora Martin Claret, pois as traduções são grosseiras e incompletas.

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    Respostas
    1. Eu não creio que alguma editora seja melhor ou pior em termos de tradução. Acredito que o problema sejam os tradutores... (e claro é provavel que alguns tradutores sejam "contratados" de certas editoras).
      Não tenho dúvida que muita coisa é perdida e/ou acrescentada nas traduções. Mas para dar um desconto aos tradutores... Eles ganham mal, trabalham muito e, por vezes traduzem obras de áreas muito distintas, o que dificulta o domínio completo do assunto...
      Outro problema (e aqui é evidente o caso da Martin Claret) é a diagramação. Para cortar custos os tipos são amontoados e a página "fica pequena" para o conteúdo (então é possível questionar se os tradutores são "estimulados" a resumir o texto.

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